
Sim, sinto falta, uma falta imensa...
Perguntas-me de quem, de quê, porquê...
Eu respondo...
Depois de limpar as lágrimas do dia,
que é de mim que sinto falta,
do sorriso que me envelhecia,
porque era viver o que tive
e agora é ver como se sobrevive
dolorosamente ao dia-a-dia.
Voltas à carga, anjo sem sexo,
fazendo perguntas para mim sem nexo,
com a tua colossal preocupação,
e o teu imenso querer em ter-me de volta.
Se tens tudo para ser feliz,
quanta alma se irá dissolver pelos teus olhos?
Afirmo consciente da minha dúvida,
que não sei, e na verdade não o sei,
se for até ao fim que seja breve,
prefiro não mais um dia assim que mil anos desta forma...
Fica áspero o teu ar inquieto,
que não condeno porque me queres bem, sou teu neto,
mas é a verdade do que sinto no momento,
e toda a amargura que floresce em cada sentimento...
E tento, talvez sem sucesso,
mostrar tudo o que perdi enumerando,
cuidadosamente o cuidado que nem sempre foi expresso,
e tão dura que tem sido a estrada pela qual vou caminhando...
Tudo começa onde a vida termina, digo-te,
como se o fim de ti, de mim, se confundisse,
como se o mundo tivesse virado contra mim,
e tudo o que construí ruísse...
Quando apenas auguro ser feliz,
são lágrimas a refeição que me condiz.
Desde essa hora da tua partida,
desabou enfim para mim este mundo,
num abismo tão escuro e profundo,
que a queda parece não mais ter uma saída.
Temo não mais encontrar o caminho,
nem ter coragem de o fazer sozinho.
Tu foste... Eu fiquei...
Será que esta divisão será prémio porque algum dia errei?
As lágrimas que te dou,
são o muito amor que ficou por dar,
e se nunca este sentimento se esgotou,
acredita que não mais írá findar.
Depois vieram guerras e desilusões,
tristezas e frustrações,
lágrimas e agressões,
um viver tantas vezes sem sequer ter razões.
Foram discussões, separações,
afastamentos e divisões,
foram sonhos desfeitos e tantos gestos mal feitos,
foram dúvidas nunca tiradas
e viveres que agora valem enormes nadas.
Foram amizades destruídas,
relações nunca por nunca conseguidas,
foram anos de mentira e mágoa,
um amor que era ar... era água,
mas que nunca foi verdade,
e desapareceu na sombra de uma saudade.
Depois veio de novo a solidão,
os que partem e nunca mais voltam,
de novo um sozinho sentir,
um perder de novo o sorrir.
Sem razão nem explicação,
aconteceu... Voltei a sorrir...
Mas se há quem nasça para ser feliz...
Eu não... e Isso voltou-me a ferir.
Fui julgado por querer ser feliz,
fui afastado, empurrado...
Apenas porque sou velho, triste e divorciado.
E ainda que aguentasse todos os maus tratos,
pintaram-me de monstro e rasgaram-me os fatos.
E tudo volta ao príncipio nesta espiral
neste abismo amargurador e colossal,
que parece nunca ter fim,
onde o mundo se desprende de mim...
Sinto uma imensa falta...