
Hoje,
está um dia bonito para morrer,
como se existissem dias bonitos para tal acontecimento.
Mas realmente hoje, os astros conjugam-se para o acontecimento.
O vento parou como se tudo acalmasse com a partida.
O sol brilha e acontece neste planeta, chamado Aqui...
As pessoas passam e já não me vêm aqui, assim sim,
já a nada importo, e por isso o dia é bom para morrer.
A música já não é ouvida por ninguém, o rebuliço é feito
em pausas demoradas como se quisessem que a morte viesse
numa paragem para que não fosse vista.
A lua, ontem nem apareceu, para não ver o fim.
Hoje,
está um dia bonito para morrer.
Fica quente neste frio, fica cheio este vazio
que ninguém sentirá, só eu, aqui só como sempre.
A terra parece rodar ao contrário, para marcar este dia.
A minha campa, está aberta e a festa está preparada,
com guitarras que não têm som, e velas que não dão luz.
A procissão que será apenas minha, não terá ninguém,
não quero o penar de outrém só porque decidi ir.
À chegada, o coveiro, invisível, fará as exéquias
deitar-me-ei na terra fria para pôr fim à minha dor.
Hoje,
foi um dia bonito para morrer,
Como se morrer fosse deixar de respirar, fechar os olhos,
para o coração, deixar de sentir, ouvir e saborear.
Deixar de andar, de tocar até mesmo de me irritar.
Morrer é muito mais que tudo isso...
Morrer é um deixar de sentir, porque ao sentir dói.
Morrer é fugir porque a amargura não deixa espaço
para ser feliz, alegre e emotivo.
Quero voltar a ser feliz, quero voltar a sorrir, quero...
ser o que era, e poder sorrir quando me deitar...
por isso decidi morrer hoje, porque está um dia bonito.